Os exames sorológicos com metodologia Elisa foram desenvolvidos na Universidade e estão sendo utilizados no inquérito sorológico da Prefeitura de Foz do Iguaçu e em levantamentos para órgãos públicos por meio de parcerias
O Laboratório de Tecnologia de Desenvolvimento de Vacinas e o Laboratório de Bioquímica e Microbiologia da UNILA realizaram mais de 5 mil exames sorológicos para determinar o número de pessoas que já foram expostas ao novo coronavírus, em Foz do Iguaçu e aldeias indígenas da região.
O teste utilizado foi desenvolvido pela equipe coordenada pelo professor Kelvinson Viana e utiliza a metodologia Elisa (do inglês Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) para a detecção do Sars-Cov-2, o vírus que provoca a Covid-19. Os testes sorológicos produzidos com base na metodologia Elisa são mais sensíveis e específicos que os testes rápidos, disponíveis no mercado – no caso do teste desenvolvido pelo laboratório da UNILA, a sensibilidade é de 95% e a especificidade é de 98%. “A chance de o teste apontar um falso positivo é extremamente baixa. Todo teste sorológico tem a chance de dar falso positivo ou negativo. Não há, no mundo, um teste 100% sensível e 100% específico. Se você ganha em uma coisa, perde em outra. Até o molecular [RT-PCR] é assim”, comenta Viana.
Os kits de teste foram padronizados e avaliados entre os meses de abril e maio, seguindo as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (RDC 302/2005) para testes “in house”. Os testes “in house” são desenvolvidos por laboratórios clínicos, com protocolos próprios, para uso do laboratório ou em pesquisas e apoio em diagnósticos, e não podem ser comercializados para outros laboratórios. “O teste é para diagnóstico, mas também usamos os dados para fazer pesquisa, porque, na prática, o diagnóstico é um serviço que a Universidade oferece. O serviço, a pesquisa e a extensão estão interligados”, diz. “Em se tratando do ambiente acadêmico, não tem como desmembrar, porque ao mesmo tempo em que fazemos um diagnóstico [esse resultado pode] se transformar numa pesquisa”, completa.
Desde maio, os kits vêm sendo utilizados nos inquéritos sorológicos realizados pela Prefeitura de Foz do Iguaçu – até o momento foram quatro levantamentos, com um total de 3.084 exames. Por meio de uma parceria com a Prefeitura, também foram realizados exames com os servidores do Hospital Municipal Padre Germano Lauck; do Centro de Controle de Zoonoses e seus familiares; das Unidades Básicas de Saúde da Vila C, Jardim Morumbi e Jardim Cidade Nova; da Secretaria Municipal de Meio Ambiente; e do Zoológico Municipal.
Outras parcerias também permitiram a realização de exames em duas aldeias indígenas de Itaipulândia, no Centro de Medicina Tropical (análise para verificar eficiência dos testes rápidos adquiridos e comparar resultados) e Infraero.
Metodologia
O exame na metodologia Elisa detecta anticorpos do novo coronavírus
Na metodologia Elisa, o diagnóstico sorológico de Covid-19 é feito através das dosagens de anticorpos da classe Ig-M, produzidos no início da infecção, o que indica que a pessoa entrou em contato com o vírus em torno de uma semana; e da classe Ig-G, marcadores mais efetivos de proteção, formados mais tardiamente, o que indica que a pessoa entrou em contato com o vírus há pelo menos 15 dias.
Nos inquéritos sorológicos realizados para a Prefeitura de Foz, são utilizados somente os marcadores Ig-G. “A maioria das pessoas é assintomática. Por isso, normalmente, só dosamos o Ig-G. Se der positivo, a pessoa teve contato com o vírus, mas é provável que não esteja mais transmitindo o vírus. Essa análise serve como uma forma de ver o passado, de saber como está o panorama de pessoas que já entraram em contato com o vírus em Foz do Iguaçu. Por isso os inquéritos são importantes”, destaca. Segundo ele, com inquéritos em intervalos de 15 ou 30 dias é possível acompanhar a evolução da infeção na cidade. “Só é possível saber se a cidade atingiu a imunidade coletiva fazendo sorologia ao longo do tempo”, diz, lembrando que o primeiro inquérito utilizando o método, realizado em 15 de maio, apontou 4% de infectados e que o último, realizado em 24 de julho, apontou 37%.
Para detectar o vírus ativo e tomar decisões sobre o paciente, o exame a ser realizado é o molecular (RT-PCR), preconizado pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde (OMS). “Se der positivo, significa que a pessoa está transmitindo vírus naquele momento. O RT-PCR só é realizado em pacientes sintomáticos”, explica Kelvinson Viana. “Por vezes, ocorre de o paciente apresentar um quadro completo de Covid-19, mas já se passaram vários dias após o início da infecção e, no momento de realizar a testagem por RT-PCR, o resultado pode dar negativo, porque o vírus não está mais presente na região de mucosa onde o material é colhido”, completa. Nesses casos, o teste Elisa serve de apoio diagnóstico fundamental aos médicos. “Temos encontrado isso em alguns pacientes do Hospital Municipal. O teste Elisa não faz diagnóstico confirmatório porque o confirmatório é só o que detecta o vírus [teste molecular]. O Elisa detecta a presença de anticorpos, que foram produzidos pelo organismo a partir do estímulo viral, e ajuda a fechar o diagnóstico”, esclarece.
Experiência e trabalho intenso
Tanto o Laboratório de Tecnologia de Desenvolvimento de Vacinas, que vem realizando os exames de Covid-19, quanto o Laboratório de Bioquímica e Microbiologia fazem diversos tipos de pesquisa. Entre elas, pesquisas de análises clínicas nas áreas de leishmaniose visceral humana e HIV, além de pesquisas clínicas direcionadas para a saúde animal. “Temos um laboratório de pesquisa clínica. Recebemos materiais biológicos de hospitais e clínicas de Foz do Iguaçu e, em diversas situações, nosso laboratório tem auxiliado médicos no fechamento de diferentes diagnósticos de doenças infecto-parasitárias, por exemplo. Trabalhamos prestando serviço e fazendo pesquisa. Num contexto geral, trabalhamos com saúde única”, reforça.
O volume de trabalho cresceu muito com a pandemia, diz Viana. “Os trabalhos desenvolvidos com Covid-19 aumentaram o volume de serviço consideravelmente, sobretudo para os alunos envolvidos. Eles nunca tiveram oportunidade de aprender tanto em tão pouco tempo como agora, e isso será refletido diretamente na formação profissional deles. Vão sair da universidade com uma bagagem muito grande em razão da quantidade de trabalho que estão fazendo. Eles sabem produzir tudo, desde o início, inclusive o kit. Se houver um erro, eles sabem onde está o erro e sabem como corrigir”, afirma.
Ele ressalta que, como uma autarquia federal, a UNILA tem total autonomia para desenvolver trabalhos em parceria com qualquer órgão de governo (municipal, estadual e federal) ou mesmo com o setor privado. “Em se tratando da Covid-19, sabemos dos desconfortos que certos resultados podem gerar em alguns setores, mas a transparência é um dos pilares da ciência”, afirma.
Assessoria