Paulina Backes caminhava quase 20 quilômetros por dia para ir e voltar da escola, no interior do Paraná. Aos dez anos de idade, as dificuldades somaram-se ao fato de ela precisar trabalhar para sustentar a família. A escola ficou para trás. Hoje, aos 48 anos de idade, a mãe de cinco filhos encontra no aprendizado uma nova oportunidade de vida.
Paulina é uma das 300 alunas matriculadas na fase inicial da Educação de Jovens e Adultos (EJA), ofertada pela Secretaria Municipal da Educação. Todos os dias, a partir das 18 horas, ela encontra seus colegas na Escola Municipal Vinícius de Moraes, no Porto Meira, a poucos minutos de casa. “Voltar pra escola foi a melhor coisa que eu fiz. Voltei porque tenho muita vontade de chegar a algum lugar. Estar na escola é tão sagrado quanto colocar o pé na igreja”, descreveu a estudante, que se emociona ao lembrar do passado.
“Nunca esqueci da minha primeira professora, ela era maravilhosa. Dava aula para quatro turmas na mesma sala, cozinhava pra gente e cuidava dos dois filhos, que moravam com ela na escola. Ela era nossa amiga, e por isso eu respeito tanto os professores e ensinei isso pros meus filhos. A educação das letras e dos números é divina, então eu creio que quem tem a dádiva de ensinar é abençoado por isso”.
Na Escola Vinícius de Moraes, Paulina e os colegas são recebidos com uma deliciosa merenda, com cardápios elaborados pelo setor de nutrição da Secretaria de Educação. As aulas acontecem de segunda a sexta-feira das 18h30 às 21h30. “O cheiro da comida chega lá no portão. É tudo tão maravilhoso. As salas são limpinhas, os bancos são limpinhos, tudo cheiroso. A professora é atenta, ensina muito bem. Na época em que estudei, a gente é que limpava o colégio. Hoje as pessoas têm tudo na mão e às vezes não querem estudar”, comentou a aluna.
Vivências
Assim como Paulina, centenas de outros alunos veêm na EJA uma nova oportunidade de vida, seja na questão pessoal, com a melhora na auto-estima, como no lado profissional, com as novas oportunidades no mercado de trabalho. “Cada um tem objetivos diferentes. Tem pessoas que querem aprender a ler para saber pegar um ônibus, outras querem ler a Bíblia, e tem aqueles que querem mudar de trabalho, seguir estudando, fazer uma faculdade”, conta a coordenadora pedagógica da EJA, Valdirene dos Santos.
José Alves Andrade, 59, também é aluno da EJA na escola Vinícius de Moraes. Eletricista há 30 anos, ele afirma que o aprendizado já tem feito a diferença. “Eu estudei pouco e precisava voltar, para melhorar mais minha vida. Mesmo com a idade avançada, eu resolvi tentar e estou indo bem. Me arrependo de não ter começado antes. Agora eu vejo como é importante estudar e aprender”, afirmou.
Estrutura
A Secretaria Municipal da Educação oferta a Educação de Jovens e Adultos na fase inicial, a da alfabetização. Cada etapa, que vai do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental, tem a duração de seis meses, podendo o aluno antecipar as fases conforme o nível de aprendizagem.
Qualquer pessoa acima de 15 anos que tenha parado de estudar ou nunca tenha estado em uma sala de aula pode se matricular em uma das oito escolas que ofertam a EJA. São elas: Padre Luiggi Salvucci (Vila C); Jorge Amado (Cidade Nova); Três Bandeiras; Ponte da Amizade (Jardim Jupira); João Adão da Silva (Lagoa Dourada); Érico Veríssimo (Jardim São Paulo); Emílio de Menezes (Morumbi) e Vinicius de Moraes (Porto Meira). Alunos especiais, de escolas como APAE e Nosso Canto, também são inseridos na EJA.
As matrículas permanecem abertas durante todo o ano nas próprias escolas, e antes de iniciar as aulas, os estudantes realizam uma avaliação para verificar o nível de aprendizado. De acordo com o IPARDES, Foz do Iguaçu possui 10.580 pessoas que não sabem ler ou escrever.
Assessoria